(16/12/2013)
A cada ano que passa sinto que eu fico cada vez
mais parecido com o meu pai. E desta vez, em algo
bem interessante, apesar de eu ainda não ter
adquirido isso por completo.
Sempre em um debate, ou uma discussão, ou uma
troca simples
de opinião, ou até mesmo na hora de
dar um sermão, antes do meu pai soltar o
verbo,
ele para, pensa, reflete, abaixa a cabeça, olha pra
mesa... pra só
depois falar.
É como se ele estive organizando as palavras
certas, buscando e
deixando as palavras e as
ideias de uma maneira mais compreensível possível.
Mas talvez não seja só isso.
Talvez ele pense muito bem no que vai falar pra não
sair alguma besteira que venha a machucar ou ofender
alguém. Ou quem sabe ele conta até dez pra não
perder a paciência. Ou talvez ele pense em tudo
isso ao mesmo tempo!
Bom, eu não sei ao certo. Seja qual for o
motivo, acho isso
muito positivo e curioso.
Nesses intervalos de pensamento entre o "ouvir" e
o "falar" ele sempre demora mais que o comum.
Mas
sempre fala.
E talvez por isso ele se sai muito bem, em todas
as conversas.
as conversas.
Acho que uma das características mais importantes
de uma pessoa que
saiba dialogar seja exatamente isso.
Os intervalos.
Certa vez, quando criança, eu estava na sala
com o meu irmão quando começou
uma
discussão na cozinha, e meu pai estava no
meio.
Houve um intervalo de silencio e a gente já
sabia o que viria a seguir.
“Eu gosto quando o pai fala", meu irmão disse.
E das minhas memórias da infância, essa talvez
seja uma que eu não vou esquecer.
Que os meus intervalos sejam cada vez maiores,
independentemente do tipo de conversa.
...
Ramom Martins de Medeiros